Neste artigo vou explicar algo que todo investidor que esteja começando sua jornada nos investimentos deve compreender, que é os Juros Compostos e o seu poder multiplicador no longo prazo. Pois como disse uma vez Albert Einstein ‘’Juros compostos são a oitava maravilha do mundo. Aquele que o entende, recebe. O que não entende, paga’’. Mais adiante vamos entender os dois lados dessa frase.
O Juros basicamente são o preço que se cobra pelo uso do dinheiro em determinado período, onde existe a figura do credor, agente superavitário que possui esse recurso sobrando e empresta ao devedor, e a figura do agente deficitário que pega o recurso emprestado assumindo um crédito e prometendo pagar o valor acrescido dos juros.
Pode-se entender também os juros de outra forma, como o preço do aluguel de um volume financeiro.
A prática dos juros já existe a milênios, tendo a estimativa do seu surgimento a 2.000 a.C. na Suméria, partindo do entendimento que o valor da moeda de troca mudava ao longo do tempo e que era necessária uma cobrança adicional maior que essa variação. Sendo assim, os anos foram se passando e a prática dos juros foi se alastrando pelo mundo, chegando na Grécia, Roma antiga, Alemanha e muitos outros lugares permanecendo até os dias atuais.
Como sempre vemos os juros serem apresentados em percentual, não imaginamos que aquele número é composto por diversos fatores como, índice de inflação, riscos da operação, custo de oportunidade e custos administrativos. Cada elemento desse pode influenciar na alta ou na baixa dos juros no momento da operação, seja de investimento ou a tomada do recurso.
ENTENDENDO A MECÂNICA DOS JUROS COMPOSTOS
Agora que entendemos os fundamentos dos juros e sua composição, vamos entender a mecânica dos juros compostos e seu funcionamento. Para isso quero começar contando uma lenda interessante que vai nos ajudar a entender o poder dos juros compostos, “A Lenda do Xadrez’’.
A muito tempo atrás havia um rei na Índia que estava triste pois tinha perdido seu filho na guerra, eis então que chega um professor de matemática nomeado de Lahur Sessa ao reino depois de caminhar longos dias, com a proposta de apresentar ao rei um novo jogo que tinha inventado e potencialmente o tiraria da tristeza profunda.
O que trazia era um tabuleiro quadrado, dividido em 64 casas, mais 32 peças representando soldados, cavalaria, torres de defesa, o rei e a rainha. Era o Xadrez.
Após o professor de matemática ter explicado o funcionamento do jogo e suas regras, o rei ficou tão encantado que disse ao professor que poderia escolher qualquer recompensa, ouro, terras, um palácio.
Agradecido, o professor disse ao rei que o que lhe interessava era grãos de trigo, e que bastaria colocar um grão na primeira casa do tabuleiro, dois na segunda, quatro na terceira, oito na quarta e assim sucessivamente dobrando até a casa número 64.
O rei estranhou o pedido e achou que era muito pouco, e até perguntou se o professor não gostaria de mais alguma coisa além disso. O professor reforçou que seu único pedido era os grãos de trigo. Sendo assim o rei convocou os matemáticos da realeza e pediu para que providenciasse o pedido feito pelo professor.
Após algum tempo os matemáticos voltaram ao rei e disseram que não seria possível concluir o pedido do professor pois a conta final das quantidades de grãos ultrapassou um número inalcançável de 18.446.744.073.709.551.615,00 sextilhões de grãos. A estimativa é de que esse número supera toda a quantidade de grãos de trigo existentes no planeta terra.
Essa história você encontra no livro ‘’O Homem que Calculava’’ de Malba Tahan publicado em 1938 e nos ajuda a ilustrar o efeito multiplicador dos juros compostos aplicado a um investimento, deixando claro que é impossível achar um investimento que dobre nosso capital em um espaço tão curto de tempo, por isso é importante entender que os juros compostos só têm efeito transformador no longo prazo e que devemos evitar interromper o processo.
Tecnicamente os juros compostos funcionam da seguinte forma, a partir de um capital inicial se aplica um percentual dos juros, resultando em um valor atualizado, na próxima vez que os juros incorrerem sobre o capital, será sobre o valor atualizado e não mais sobre o valor inicial e assim sucessivamente. À primeira vista já deu para perceber o quão exponencial é essa mecânica, mas para facilitar o entendimento vou deixar abaixo um exemplo.
Se alongarmos mais o espaço de tempo a curva de crescimento será muito mais exponencial e é por isso que devemos evitar interromper o processo, mas sim, potencializar com aportes mensais incrementais seja com valores menores ou maiores, no longo prazo faz toda a diferença. Abaixo deixo alguns exemplos.
Neste primeiro exemplo fizemos uma simulação com um investimento de R$ 10.000,00 no início do período, sem aportes mensais, com uma taxa de juros anual bem alta de 15% em um período de 10 anos.
Na próxima figura vemos o resultado do cálculo, já nos deparando com a curva exponencial causada pelos juros compostos. No final do período vemos um valor acumulado de R$ 40.453,57 mil, multiplicação de 4x sobre o capital inicial em 10 anos. Parece muito, e realmente é, contando que não foi feito mais nada após o aporte inicial, tendo um ganho causado pelos juros de R$ 30.453,57. Mas agora vamos a outro exemplo.
Agora neste outro exemplo mudamos o cenário, mantivemos o aporte inicial de R$ 10.000,00, incrementamos um aporte mensal de R$ 500,00, reduzimos a rentabilidade anual para 6,5% e continuamos com o período de 10 anos com o investimento.
Logo na figura acima já podemos perceber algumas diferenças importantes, vemos que por mais que a rentabilidade anual acabou sendo menor do que a do primeiro exemplo, o valor acumulado foi expressivamente maior, isso porque teve a contribuição relevante de R$ 500,00 por mês de aporte, que em um primeiro momento parece pouco, mas com disciplina e paciência conseguimos chegar a um acúmulo de patrimônio relevante, mesmo não tendo a maior taxa de retorno.
FÓRMULA DOS JUROS COMPOSTOS
Até agora focamos em entender a mecânica e o funcionamento dos juros compostos, mas qual seria a sua fórmula?
Abaixo vamos entender ponto a ponto da fórmula:
M = montante acumulado resultante da operação
C = capital inicialmente aplicado
i = a taxa de juros
t = tempo em que a operação vai durar, muitas vezes representado por “n”.
Caso matemática não seja muito seu forte e essa fórmula tenha te assustado um pouco, te garanto que é mais fácil do que parece. Vamos entender melhor.
O ‘’M’’ da fórmula se trata do montante acumulado durante todo o período da operação, sendo o capital principal mais os juros gerados.
O ‘’C’’ é o capital inicial que é aportado no início da operação na qual será incorrido os juros.
A parte da fórmula que está entre parênteses ‘’(1+i)’’ significa que o número um será somado com a taxa de juros dívida por 100. Isso é necessário para conseguir realizar a multiplicação. Por exemplo: se a taxa de juros for de 10% ao ano, deve-se dividir 10 por 100, ficando 0,10 e somar com 1 resultando em 1,10.
E na última parte da fórmula encontramos o ‘’t’’ de tempo, que se encontra em uma posição elevada, sendo responsável pelos juros sobre juros.
Alguns pensam que a parte mais importante da fórmula seria a rentabilidade, fazendo com que muitos investidores acabem procurando em seus investimentos a maior rentabilidade possível, tomando riscos desnecessários. O que nem sempre é verdade, sendo o fator mais importante da fórmula o ‘’t’’ de tempo. Pois é pensando em um período mais longo de tempo que se consegue causar um efeito multiplicador maior do capital.
Por isso é importante que o investidor procure começar a sua jornada o mais cedo possível, não se importando em um primeiro momento com a rentabilidade ou com o aporte que irá fazer, como vimos no exemplo acima.
Assim o investidor consegue focar no que está sob seu controle, como os aportes mensais, disciplina, consistência e o tempo.
FERRAMENTAS PARA CALCULAR OS JUROS COMPOSTOS
Existem basicamente duas ferramentas que podemos usar para realizar a conta dos juros compostos, sendo elas a calculadora HP-12C e a Planilha do Excel.
HP – 12C
Com a HP-12C conseguimos fazer diversos cálculos para várias necessidades, mas aqui vamos focar em como fazer a conta dos juros compostos. Para facilitar faça a conta na ordem abaixo colocando os dados na calculadora.
R$ 10.000,00
Pressione CHS (Mudança de sinal para indicar uma saída de caixa)
- R$ 10.000,00
Pressione PV (Valor Presente)
5
n (Para indicar o tempo da operação)
10
i (Para indicar a taxa, a calculadora já entende que é em percentual)
FV
Resultado: R$ 16.105,10
Esse valor de R$ 16.105,10 é o montante total da operação, somando o capital principal e os juros. O valor de R$ 6.105,10 é somente os juros gerados.
Caso queira incluir aportes mensais na conta, basta colocar o valor, pressionar CHS para indicar saída de caixa e depois PMT.
Um ponto importante é que toda a operação tem que estar na mesma linha temporal, ou seja, se a taxa for ao ano, você irá colocar o tempo em anos e o aporte em anos. Se a taxa for ao mês, você deve colocar os aportes em meses e o tempo também. Se não a conta fica distorcida.
PLANILHA DE EXCEL
A planilha de excel é uma ferramenta que muitos preferem utilizar por ter um custo menor e ser mais acessível. Então para calcular os juros compostos você pode estruturar na planilha da forma descrita abaixo, onde em uma coluna estará a identificação dos dados e na coluna à direita ficaram os dados da fórmula.
Assim, alterando qualquer dado você conseguirá ver o resultado mudando também, podendo fazer diversas simulações.
FERRAMENTAS DA INTERNET
Mas caso preferir, também é possível achar diversas ferramentas de bancos, corretoras e sites de finanças na internet para conseguir fazer o cálculo dos juros compostos.
QUAIS ATIVOS INVESTIR PARA TER OS JUROS COMPOSTOS?
Entendido todo o racional por trás dos juros compostos, vamos saber agora quais ativos conseguimos investir no mercado de capitais para usufruir dos juros compostos.
AÇÕES
O investimento em empresas através das ações na bolsa de valores é um dos principais ativos geradores de juros compostos no mercado financeiro, justamente pela sua dinâmica, pois as ações têm dois fatores remuneratórios que são o ganho de capital e o pagamento de dividendos, o que se encaixa perfeitamente na mecânica dos juros compostos.
Detalhando melhor, investindo em ações se obtém o direito de recebimento dos dividendos pagos pelas empresas a partir dos lucros gerados através das suas operações. Com esses dividendos conseguimos comprar mais ações da mesma empresa no mercado, podendo o próximo pagamento de dividendo ser maior do que o último, conseguindo comprar mais ações e assim seguindo um ciclo de crescimento exponencial, que pode ser potencializado ainda mais pelos aportes mensais, comprando ações na baixa e com o aumento do valor de mercado da empresa.
FIIs (FUNDOS IMOBILIÁRIOS)
Outro ativo que você pode investir pensando em usufruir dos juros compostos, são os FIIs (Fundos Imobiliários), que são fundos geridos por gestores profissionais focados em alocar os recursos depositados pelos cotistas no mercado imobiliário em diversos segmentos de imóveis como, galpões logísticos, shoppings centers, lajes corporativas etc. Onde são alugados para empresas em sua maioria de grande porte que pagam aluguéis mensais ao fundo, sendo distribuído aos investidores mensalmente. Temos um artigo completo no blog explicando os fundos imobiliários.
Dado o funcionamento dessa dinâmica, para o investidor conseguir fazer a mecânica dos juros compostos em FIIs funcionar, basta ele ir à B3, comprar cotas de um fundo imobiliário que até o momento pode girar em torno de R$ 100,00, e após isso ele terá o direito de receber todo mês os dividendos pago pelo fundo. A depender do valor investido, o dividendo pago pode ser suficiente para comprar outra cota desse mesmo fundo, fazendo a bola de neve girar.
Também é possível usufruir dos juros compostos investindo nos ativos que são entendidos como da mesma família dos FIIs, por exemplo, FIPs, FI-IE, FIAgro etc.
NÚMERO MÁGICO EM FIIS
Para saber o valor necessário a ser investido no FII que com o dividendo se consiga comprar mais cotas sem precisar fazer novos aportes, podemos fazer uma conta simples que explicarei abaixo.
Basta dividir o valor da cota do FII negociado no mercado pelo último dividendo pago no mês anterior, o resultado do cálculo será a quantidade de cotas que você precisará ter para receber o valor do dividendo igual ao valor da cota a mercado e que se multiplicado pelo valor da cota do FII resultará no valor monetário necessário.
ETF (EXCHANGE TRADED FUNDS)
Os ETFs também são um investimento que você pode considerar para usufruir dos juros compostos. Basicamente são fundos de gestão passiva que adquirem ativos no mercado seguindo uma metodologia ou índice específico, sem uma certa interferência emocional do gestor, fazendo com que muitas vezes seja um investimento de sucesso no longo prazo.
Cada ETF é negociado em bolsa em uma dinâmica parecida com as ações, tendo boa liquidez fazendo com que o investidor consiga comprar e vender a qualquer momento. E sua composição pode ser diversa, sendo desde ações até ativos de renda fixa como títulos públicos e crédito privado.
É um ativo que ganhou bastante notoriedade nos Estados Unidos, alcançando uma diversidade enorme dentro do país.
Não é o objetivo nos aprofundarmos nos ETFs neste artigo e sim entendermos o racional de trás.
Alguns exemplos de ETF brasileiros são:
BOVA11: ETF que investe em ações do índice Bovespa.
DIVO11: ETF que investe nas ações pagadoras de dividendos.
IVVB11: ETF que investe nas ações de empresas americanas atreladas ao índice S&P 500.
FUNDOS DE INVESTIMENTO
Os Fundos de Investimento também obedecem a dinâmica dos juros compostos, pois é uma estrutura onde o investidor deixa um recurso aos cuidados do gestor que será responsável por alocar no mercado financeiro trazendo rentabilidade aos cotistas que vai compondo ao longo do tempo.
ATIVOS DE RENDA FIXA (TÍTULO PÚBLICO, CDB, LCI, LCA, CRI, CRA E DEBÊNTURE)
Os ativos de renda fixa também funcionam a base de juros compostos, mas o importante é priorizar aqueles títulos que não pagam cupom de juros mensal ou semestral porque se não os juros contratados podem incidir em um capital cada vez menor. Sendo assim deve-se levar o título até o vencimento para colher todo o rendimento.
Mesmo assim, vai de estratégia para estratégia de cada investidor, caso preferir um título que pague cupom de juros para servir de completo de renda não terá problema nenhum.
JUROS COMPOSTOS CONTRA VOCÊ
No começo deste artigo conhecemos a frase atribuída ao Albert Einstein que diz que quem não entende os juros compostos acaba pagando-o e se quando está ao nosso favor gera grandes benefícios econômicos, quando está contra pode ter a capacidade de destruir nossas economias se não tomar os devidos cuidados e não for bem calculado. Por isso é importante entendermos quais tipos de dívidas estaremos expostos aos juros compostos quando assumirmos uma dívida. São eles:
● Financiamento imobiliário
● Financiamento de veículos
● Empréstimo rotativo (cartão de crédito)
● Consignado
● Cheque especial
Sendo assim, antes de fazermos uma dívida devemos entender se os juros incorridos e transformados em parcela estão dentro da nossa capacidade de pagamento mensal como também o percentual que consome da nossa renda ativa (renda vinda do trabalho). É fundamental que tenhamos uma estabilidade financeira, finanças pessoais em ordem e uma reserva de emergência.
JUROS COMPOSTOS NA VIDA
Agora entrando em um pensamento mais filosófico, não é só nos investimentos que conseguimos encontrar os juros compostos, eles estão em vários momentos da nossa vida e em diversas atividades.
Quando lemos um livro, o conhecimento que adquirimos se acumula com o conhecimento adquirido na última leitura e que isso se seguindo ao longo de muito tempo conseguimos ter um conhecimento amplo sobre determinado tema. No começo fica difícil de compreender aquele assunto, mas no final vai ficando cada vez mais fácil porque ocorreu a composição de conhecimento.
E assim como nos investimentos onde não precisa realizar um grande aporte de recursos financeiros no início, na leitura/estudo também não, onde 10 minutos dedicados diariamente na leitura ou estudo de algo faz uma diferença relevante no longo prazo.
Basta fazermos a conta, 10 minutos de leitura por dia são 5 horas por mês, que no ano se transforma em 62 horas. Se cada leitura você conseguir ler 5 páginas, será 155 páginas no mês e 1.860,00 páginas no ano, que considerando um livro com uma média de 150 páginas você consegue ler 12 livros no ano. Fazendo isso de forma consistente se consegue ler 62 livros em 5 anos.
Isso se aplica também ao exercício físico, ao esporte, ou qualquer habilidade que dedicados poucas horas na semana se consegue atingir resultados relevantes no período mais longo.
Por isso te convido a ter esse pensamento e aplicar ao seu dia a dia na atividade que for fazer, não se importando no começo com o tamanho do esforço que irá realizar e sim em manter a consistência, disciplina e principalmente a paciência porque grandes realizações só acontecem no longo prazo, a partir do momento em que damos o primeiro passo.
E aqui termino mais um artigo, espero ter ajudado na compreensão dos juros compostos e se ficou alguma dúvida não hesite em me mandar mensagem.
Até o próximo artigo.
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