COMO INVESTIR O CAIXA DA EMPRESA?
- Vinicius Andrade
- 17 de set.
- 11 min de leitura

POR QUE INVESTIR O CAIXA DA EMPRESA É IMPORTANTE?
É comum encontrar mais informações sobre investimentos voltados para pessoas físicas, com diversas estratégias, variedade de ativos e benefícios tributários. Porém, quando o assunto é o investimento do caixa de uma empresa, algumas mudanças acontecem e surgem pontos importantes a serem considerados.
Muitos empresários têm dúvidas sobre onde aplicar o recurso que sobra no caixa da empresa — seja por desconhecimento das opções disponíveis ou por se sentirem confortáveis em deixar o dinheiro parado na conta do banco. No entanto, essa não é a melhor alternativa, pois além de o recurso perder poder de compra devido à inflação, renuncia-se a uma rentabilidade potencial que poderia ajudar a empresa a atingir objetivos estratégicos e até influenciar positivamente nos resultados da companhia.
OS TRÊS PILARES DA GESTÃO DO CAIXA
Antes de realizar qualquer investimento, é fundamental considerar os três pilares de um ativo financeiro: segurança, liquidez e rentabilidade. Ao analisar um investimento sob a ótica desses fatores, torna-se possível avaliar se ele é adequado para os objetivos da empresa, os prazos de utilização do recurso, os riscos assumidos e a rentabilidade esperada.
Vale destacar que nenhum ativo oferece as melhores condições nos três pilares ao mesmo tempo. Sempre haverá pelo menos um fator em que será razoável ou até insatisfatório. A seguir, explicarei cada ponto em mais detalhes.
Segurança: A segurança de um ativo está diretamente ligada ao seu risco: quanto menos seguro, mais arriscado; quanto mais seguro, menos arriscado. O principal ponto a observar nesse aspecto é a volatilidade. No caso do investimento do caixa de uma empresa, a volatilidade deve ser praticamente nula — ou seja, o recurso aplicado não pode sofrer grandes variações. Isso porque a empresa pode precisar do dinheiro a qualquer momento e não pode correr o risco de resgatá-lo com prejuízo.
Outro fator relacionado à segurança são os riscos intrínsecos ao ativo, como, por exemplo: o risco de crédito de um título de renda fixa, a concentração em poucos ativos dentro de um fundo de investimento, a qualidade da governança e até o tempo de existência do produto. Todos esses pontos devem ser analisados com atenção antes de realizar qualquer investimento.
Liquidez: A liquidez de um ativo é a velocidade com que ele pode ser convertido em dinheiro quando é solicitado o resgate ou a venda. Alguns investimentos têm liquidez mais limitada, exigindo o cumprimento de certas condições antes de disponibilizar o recurso, como prazos de carência, prazos de resgate ou até o vencimento do título.
No caso do investimento do caixa de uma empresa, é fundamental que o empresário compreenda quais são os prazos e necessidades de uso do caixa. Se os recursos tendem a ser utilizados no curto prazo — em semanas ou poucos meses —, o investimento escolhido deve respeitar esses prazos, garantindo que o dinheiro esteja disponível quando necessário.
Rentabilidade: A rentabilidade é um ponto importante na hora de escolher um investimento para o caixa da empresa. No entanto, é preciso cuidado para não cair na armadilha de buscar apenas o ativo com a maior taxa de retorno, pois um maior potencial de ganho geralmente vem acompanhado de riscos adicionais.
Por isso, ao investir o caixa da empresa, deve-se priorizar uma rentabilidade adequada aos riscos assumidos, aos objetivos e aos prazos definidos. É importante lembrar que o verdadeiro propósito da empresa é gerar lucro por meio de sua operação, e não com investimentos financeiros. Com essa visão, evitam-se riscos desnecessários e garante-se uma gestão saudável do caixa da companhia.
TIPOS DE CAIXA: NEM TODO DINHEIRO É IGUAL
No dia a dia da empresa é importante, quando possível, realizar uma separação do caixa para cada necessidade e objetivo. E então, será destinado um tipo de investimento ideal para cada uso.
Caixa operacional: O caixa operacional é utilizado para sustentar o dia a dia da companhia, como pagamento de fornecedores, compra de materiais, impostos, contas etc. Por isso, sua necessidade de uso está no curto e até no curtíssimo prazo. Dessa forma, os recursos destinados à operação da empresa devem ser aplicados em investimentos de baixo risco e alta liquidez, que permitam resgate a qualquer momento.
Esses investimentos normalmente não oferecem a maior rentabilidade, mas nesse caso o foco não deve ser em ganhos elevados, e sim em segurança e liquidez. Mais adiante, falaremos sobre quais ativos são mais adequados para investir o caixa operacional.
Reserva de emergência: O conceito de reserva de emergência é mais comum nas finanças pessoais do que no dia a dia das empresas. No entanto, quando uma companhia estrutura uma reserva de emergência, ela ganha mais resiliência para enfrentar momentos de crise, períodos de baixa receita ou até problemas operacionais internos, além de se colocar em posição de aproveitar eventuais oportunidades.
A reserva de emergência deve ser composta pelo equivalente a, no mínimo, seis meses de custos fixos da empresa, como aluguel, salários e contas de consumo. O ideal é que essa parcela do caixa permaneça praticamente estática, sofrendo apenas ajustes ao longo do tempo conforme os custos aumentem. É importante também evitar que esses recursos sejam usados para finalidades que não sejam emergenciais, como confraternizações, viagens ou compras pessoais dos sócios.
Uma boa prática para manter a disciplina é destinar um ativo específico para a reserva de emergência. Isso facilita o controle por parte dos sócios e da diretoria financeira, que sabem exatamente onde o recurso está alocado quando for necessário utilizá-lo. No caso desse caixa, as exigências permanecem as mesmas: alta liquidez, baixo risco e rentabilidade moderada.
Caixa para expansão: Esse é um recurso reservado pela empresa para projetos futuros ou para a aquisição de algum bem ou imobilizado. Como a tendência é que esse valor só seja utilizado em um período mais longo, é possível buscar investimentos com maior potencial de retorno, ainda que tenham liquidez menor.
Mesmo assim, o ideal é priorizar investimentos estáveis, encontrados principalmente na renda fixa ou em fundos de investimento de baixa volatilidade. Não é recomendável aplicar esse tipo de recurso em ações, fundos imobiliários ou outros ativos de renda variável, pois existe o risco de, quando a empresa precisar utilizar o dinheiro, o mercado estar em queda e o investimento apresentar prejuízo.
Saber separar esses "bolsos" é essencial para definir o investimento certo para cada necessidade.
ONDE INVESTIR O CAIXA DA EMPRESA?
Tesouro Selic: O Tesouro Selic atende muito bem à necessidade de investir o caixa da empresa, seja para prazos curtos ou longos. No caso do caixa operacional, ele se mostra um investimento ideal, pois é um título de renda fixa com risco soberano — ou seja, o risco é do próprio país não honrar sua dívida, o que é considerado muito baixo. Esse título acompanha a variação da taxa Selic, rendendo mais quando os juros sobem e menos quando caem. Além disso, apresenta risco de volatilidade praticamente nulo, sendo raro o recurso ter grandes oscilações.
Outro ponto positivo é a alta liquidez, já que pode ser resgatado a qualquer momento. A única atenção necessária é com relação ao horário de resgate: se o pedido for feito após as 13h, o valor só estará disponível no próximo dia útil.
O Tesouro Selic ainda permite realizar novos aportes no mesmo título, acumulando com o valor já investido e aumentando a rentabilidade ao longo do tempo. Também é possível efetuar resgates parciais, sem a necessidade de retirar todo o valor investido de uma vez quando houver necessidade de caixa.
Exemplo de título do Tesouro Selic:

CDBs de liquidez diária: Os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) são títulos de renda fixa emitidos por instituições bancárias, que utilizam os recursos captados junto aos investidores para financiar suas atividades de crédito. Eles também podem ser utilizados para alocação do caixa da empresa, tanto em prazos curtos (1 a 6 meses) quanto em prazos mais longos (acima de um ano).
No entanto, é importante lembrar que os CDBs possuem IOF nos primeiros 30 dias, que começa em 96% no primeiro dia e vai reduzindo até 0% no 30º dia, sempre incidindo sobre os rendimentos. Por isso, não compensa alocar recursos que possam ser necessários dentro desse período, pois o impacto do IOF e do IR pode reduzir bastante a rentabilidade.
Entre as diversas opções de CDBs, o ideal para empresas é priorizar aqueles de liquidez diária, que permitem resgate a qualquer momento, e que ofereçam rentabilidade pós-fixada de, no mínimo, 100% do CDI, preferencialmente emitidos por grandes bancos.
É preciso atenção com CDBs que oferecem taxas de rentabilidade muito acima da média (como 150%, 180% ou 200% do CDI). Normalmente, por trás dessas ofertas podem existir riscos adicionais, como instituições financeiras com dificuldades ou condições pouco adequadas para o caixa de uma empresa — por exemplo, prazos de vencimento muito longos, carência para resgate ou valores mínimos de aplicação elevados.
Exemplo de CDB com liquidez diária:

Fundos DI e de crédito privado curto prazo: São fundos de investimento geridos por um gestor profissional, responsável por alocar os recursos depositados pelos investidores (cotistas) em diferentes ativos do mercado financeiro. Esses ativos podem estar distribuídos em diversas classes, como renda fixa, renda variável ou internacional.
Para o caixa de uma empresa, os fundos mais indicados são aqueles que investem na classe de Renda Fixa, em títulos do governo, crédito bancário ou crédito privado — sempre priorizando ativos conservadores e de emissores com baixo risco de crédito. É fundamental que o fundo mantenha uma carteira amplamente diversificada, evitando alta concentração em um único emissor. Além disso, deve-se observar o nível de volatilidade: quanto menor, melhor, especialmente quando o recurso pode ser necessário em prazos mais curtos.
Outros pontos qualitativos que merecem atenção na escolha de um fundo incluem:
Tempo de existência do fundo: quanto mais longo, melhor, pois permite avaliar o desempenho em diferentes cenários econômicos;
Solidez da gestora: importante para garantir segurança e boa governança;
Taxas de administração: devem ser baixas para não comprometer a rentabilidade;
Liquidez: prazo de resgate rápido, idealmente em no máximo D+1.
Abaixo deixo alguns exemplos de fundos:
- BNP Paribas Match DI FIRF CrPr RL
- BTG CDB Plus FIRF CrPr
- BTG Yield DI FIRF Ref CrPr
- Bradesco Sky DI FICFIRFRef
- BTG DIGITAL TESOURO SELIC SIMPLES FIRF
- Western Crédito Bancário Plus FIRF CrPr RL
- MAG Premium DI FIRF Ref CrPr
Compromissada: Como os demais títulos de renda fixa possuem incidência de IOF nos primeiros 30 dias, não é viável investir o caixa da empresa que poderá ser necessário dentro desse prazo. Nesses casos, uma alternativa interessante são as compromissadas, aplicações voltadas para o curtíssimo prazo, que podem ter vencimento até de um dia para o outro, conhecidas como overnight.
As compromissadas funcionam como um acordo em que a contraparte é uma instituição bancária, que assume o compromisso de devolver o capital investido em uma data definida, acrescido dos juros do período. Como garantia (lastro), é vinculado um título de renda fixa, como CDBs, títulos públicos, LCIs, LCAs, debêntures, entre outros.
Na maioria das vezes, a rentabilidade é pós-fixada, variando de 70% a 80% do CDI, dependendo da instituição. À primeira vista pode parecer pouco atrativo, já que rende menos que um CDB padrão. Porém, por contar com a isenção de IOF e, no caso da pessoa física, também de IR, torna-se uma opção vantajosa no curtíssimo prazo.
Os prazos da compromissada são definidos no momento da aplicação e podem variar conforme a necessidade do investidor.
Overnight (1 dia)
A mais comum. Você aplica hoje e resgata no próximo dia útil.
Muito usada para gestão de caixa de empresas e bancos.
De prazo fixo (ex.: 7, 15 ou 30 dias)
O dinheiro fica aplicado até a data acordada.
Rentabilidade geralmente um pouco maior do que a overnight.
De prazo aberto (liquidez diária)
Permite resgate a qualquer momento, mas a taxa pode variar.
Usada por fundos para dar flexibilidade.
Os valores mínimos para aplicação em uma compromissada variam de acordo com a instituição. Em alguns bancos, o investimento inicial pode ser mais elevado, na faixa de R$ 50 mil a R$ 100 mil. Já em corretoras de varejo, é comum encontrar valores mínimos mais acessíveis, como R$ 1.000,00 ou R$ 5.000,00.
Abaixo deixo um exemplo de uma compromissada:


Títulos atrelados à inflação: São títulos que possuem uma parte da remuneração pré-fixada e outra parte atrelada ao índice de preços (IPCA), que pode variar ao longo do tempo. A principal vantagem desse tipo de investimento é que o recurso aplicado sempre terá um rendimento acima da inflação, preservando o poder de compra.
Existem alguns pontos importantes aos quais é preciso ficar atento: as condições de aplicação que um título atrelado à inflação exige e os riscos embutidos nesse tipo de investimento. Abaixo descrevo cada um deles.
Marcação a mercado: Ao contrário dos títulos com rentabilidade pós-fixada — que acompanham o sobe e desce dos juros e não possuem marcação a mercado —, os títulos atrelados à inflação com uma taxa pré-fixada têm o que chamamos de marcação a mercado.
Basicamente, isso significa que o valor do título é reprecificado diariamente pelo mercado, ou seja, mostra quanto ele valeria se você decidisse vender antes do vencimento.
Um ponto importante para entender esse mecanismo é que as taxas de juros são inversamente proporcionais ao preço do título. Isso quer dizer:
Se a taxa de mercado estiver maior do que a contratada no início, o preço do seu título cai e você terá prejuízo se vender antes do prazo.
Se a taxa de mercado estiver menor do que a contratada, o preço do título sobe e você terá um ganho, podendo resgatar antecipadamente com lucro (ágio), caso queira.
A figura abaixo ilustra como funciona a marcação a mercado:

Como ilustrado no gráfico acima, ao longo do tempo pode haver certa volatilidade no valor aplicado devido à marcação a mercado. No entanto, é importante ressaltar que, se o título for mantido até o vencimento, você receberá exatamente a rentabilidade contratada, acrescida da inflação do período.
Por isso, o ideal é destinar para esse tipo de aplicação apenas o recurso do caixa da empresa que não será necessário no curto prazo e que poderá ser mantido até o vencimento do título. Prefira títulos IPCA+ com prazos mais curtos — de até 5 anos ou compatíveis com o momento em que a empresa precisará do dinheiro.
Para essa estratégia de alocação, é recomendável priorizar os títulos públicos, já que possuem menor risco de crédito, maior liquidez e permitem realizar novos aportes no mesmo título, acumulando sobre o valor já investido.
Abaixo, seguem alguns exemplos de Títulos Públicos:


CUIDADOS NA HORA DE INVESTIR
Diversifique: A tendência é que o recurso do caixa da sua empresa seja alocado em ativos de baixo risco de crédito, com boa liquidez e baixa volatilidade. Nesse caso, não há problema em haver certa concentração, já que isso facilita a gestão do caixa no dia a dia.
Ainda assim, é sempre recomendável buscar diversificação. Isso pode ser feito distribuindo o recurso entre mais de um fundo de investimento, CDBs de diferentes bancos ou títulos públicos com prazos variados.
Atenção aos prazos: Deve-se sempre estar atento aos prazos dos investimentos e à sua liquidez, para evitar o risco de um descasamento entre o prazo de resgate e a necessidade de utilização do recurso.
Tributação: Os títulos de renda fixa seguem uma tributação específica de Imposto de Renda, muito parecida com a aplicada ao investidor pessoa física.A diferença é que a pessoa jurídica (empresa) não possui isenção de IR em nenhum título de renda fixa, mesmo naqueles que são isentos para pessoas físicas.
Abaixo deixo uma tabela que mostra as alíquotas da renda fixa:


Política de investimentos: Em determinado momento, o caixa da empresa pode atingir um nível de complexidade maior na gestão, devido ao grande volume de movimentações diárias. Diante disso, torna-se importante estabelecer uma política formal de investimento do caixa, definindo pontos como: quais tipos de investimentos são permitidos, prazos, ativos específicos, responsáveis pelas aplicações e as instituições financeiras onde os recursos poderão ser alocados.
CLASSES DE ATIVOS A SE EVITAR
Quando falamos de investimento do caixa da empresa, é importante destacar que alguns ativos não são indicados devido ao seu alto risco e volatilidade — a menos que haja um caso muito específico ou uma estratégia bem definida da companhia.
Um ponto de atenção é a tentação de buscar retornos elevados no mercado financeiro, especialmente em momentos de valorização das ações ou outros ativos de renda variável. Nessas situações, o empresário pode sentir que a renda fixa está rendendo pouco e considerar migrar o caixa da empresa para investimentos mais arriscados.
No entanto, é fundamental lembrar que a principal forma de rentabilizar o caixa da empresa é por meio da sua própria operação. O mercado financeiro deve ser utilizado como complemento, priorizando segurança e liquidez, e não como o foco principal.
Abaixo sito alguns ativos que não são indicados para alocação do caixa da empresa.
- Ações
- Fundos Imobiliários
- Fundos de Infraestrutura
- Fiagros
- Debênture
- CRI e CRA
- Criptomoeda
- Ouro
- COE
Conclusão
Investir o caixa da empresa não é um luxo — é uma estratégia de gestão inteligente. Quando bem aplicado, o dinheiro pode render mais, proteger o patrimônio e até gerar recursos extras para reinvestir no próprio negócio.
Espero ter te ajudo a investir o caixa da sua companhia, se tiver restado alguma dúvida não hesite em me contatar.
Até o próximo artigo!




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