ENTENDENDO O RISCO DE ACORDO COM HOWARD MARKS
- Vinicius Andrade
- 30 de out.
- 11 min de leitura

Neste artigo iremos nos aprofundar sobre o entendimento do Risco, um dos pilares de todo investimento, entre Retorno e Liquidez. E um dos atores que mais se aprofundou no entendimento do risco e soube explicar de forma didática, foi Howard Marks, grande gestor americano com mais de 50 anos de mercado e fundador da Oaktree Capital instituição com mais de US$ 209 bilhões. Dito isso, Howard escreveu o livro ‘’O mais Importante para o Investidor’’ que em cada capítulo ressalta um conceito importante que o investidor deve conhecer e dominar para fazer melhores investimentos, e neste livro ele dedica três capítulos sobre risco, onde primeiro ele preza por entender o risco, depois sobre reconhecer o risco e por fim controlar o risco.
Com diversos insights importantes em cada capítulo, neste artigo irei trazer os principais pontos das explicações de Howard sobre Risco.
O MAIS IMPORTANTE É ENTENDER O RISCO
Neste primeiro capítulo sobre risco, Howard busca primeiro explicar seu entendimento sobre o que realmente é risco, o que o mercado considera risco e os principais cuidados que o investidor deve tomar no momento de fazer um investimento.
Ele começa dizendo que investir consiste em dar atenção ao futuro, mas como nenhum de nós consegue ter certeza do que acontece no futuro, o risco seria algo inevitável, e que é o elemento essencial para a realização de qualquer investimento. Ressalta ser improvável ter êxito nos investimentos por muito tempo se não der atenção explicita ao risco. Entender é o primeiro passo e o segundo é reconhecer quando há alto risco.
Howard dá três fortes razões para considerar a avaliação do risco um elemento fundamental no processo de investimento. Vamos ver a seguir.
1° Razão: Como o risco é entendido como algo ruim e a maioria das pessoas são naturalmente avessas ao risco, antes de fazer qualquer investimento, é preciso fazer julgamentos sobre seus riscos e entender se é capaz de conviver com eles.
2° Razão: É essencial considerar riscos e rendimentos potenciais. Como os investidores tendem a evitar riscos, eles só se dispõem a assumi-los quando há perspectiva de maiores retornos. O mercado ajusta os preços dos ativos para que os retornos esperados sejam proporcionais ao risco. Por isso, além de avaliar a rentabilidade, o investidor deve analisar se o retorno realmente compensa o risco assumido, já que olhar apenas para o ganho mostra apenas metade da história.
3° Razão: Quando obtemos certo resultado em nossos investimentos, esse resultado possui um significado limitado, porque o risco assumido também precisa ser avaliado. E isso pode ser feito através de algumas perguntas. Os rendimentos foram obtidos com instrumentos seguros ou arriscados? Com títulos de renda fixa ou ações? Com grandes empresas consolidadas ou com empresas menores e mais instáveis? Com ajuda de alavancagem ou sem? Com uma carteira concentrada ou diversificada?
A seguir Howard procura desmitificar o famoso gráfico que considera a relação retorno ajustado ao risco amplamente utilizado pelo mercado, que diz que, os investimentos mais arriscados são os que geram maiores retornos, mas o próprio Howard diz que se os investimentos mais arriscados produzissem retornos mais altos, logo não seriam mais arriscados. Para ele a formulação correta, para atrair capital, os investimentos mais arriscados devem oferecer a perspectiva de maiores retornos, ou de maiores retornos prometidos, ou retornos esperados. Mas que não há nada que garanta que esses retornos mais altos irão acontecer.
Ainda neste capítulo, Howard busca definir o que é risco, e explora a definição dada por acadêmicos e pelo mercado de que risco é volatilidade. E esse ponto é de extrema importância para os investidores que estão começando e que logo se deparam com investimentos que possuem certa volatilidade, os espantando num primeiro momento. Então vamos entender o que exatamente é o risco.
A volatilidade dada como risco é confortavelmente utilizada por acadêmicos porque é facilmente mensurada e possibilita colocar em modelos matemáticos e fórmulas. Mas talvez a volatilidade não seria o risco mais importante a se considerar, visto que é a consequência de algo que realmente aconteceu e não a causa em si e que muitas vezes pode não refletir algo que esteja acontecendo com o ativo, mas algo externo, podendo levar o investidor a tomar decisões equivocadas ou ignorar oportunidades.
Para Howard, risco é na verdade a probabilidade de perder dinheiro de forma permanente, o que lhe gera maior preocupação quando está prestes a realizar um investimento, pois se essa forma de risco se concretiza é porque algo aconteceu com os fundamentos do ativo e daí seu preço será influenciado por uma forte oscilação, gerando perdas.
Mas ele ressalta outras formas de risco que podem estar presentes em alguns investimentos, que podem preocupar uns, mas não outros.
Ficar aquém do objetivo: Cada investidor pode ter um objetivo diferente com seus investimentos e que o não atingimento desses objetivos devido a um erro de alocação de capital, pode ser considerado um risco. Howard destaca o risco que um executivo aposentado, que talvez precise de 4% de retorno ao ano, para arcar com os custos do seu padrão de vida, o risco que esse executivo corre é de realizar investimentos ou algo acontecer na macroeconomia, que entregue um retorno menor do que o necessário.
Desempenho insatisfatório: Algo que pode acontecer é de o investidor temporariamente ficar com um desempenho insatisfatório ou abaixo do benchmark do mercado, que no caso do Brasil é o CDI, a fim de no longo prazo obter retornos maiores. Isso deve ser suportável e o investidor tem que estar preparado para esses períodos.
Não convencionalidade: Neste item, Howard ressalta que existe também o chamado “risco de ser diferente”, que em determinados momentos em que a multidão segue por um determinado caminho, alguns investidores tendem a enfrentar a dor de ter um pensamento diferente da maioria, que pode ou não dar certo. Neste ponto Howard destaca “a preocupação com esse risco impede que muitas pessoas tenham grandes resultados, mas também cria oportunidades em investimentos não ortodoxos para aqueles que ousam ser diferentes”.
Liquidez: Sobre o risco de liquidez deixo o próprio trecho que Howard escreve no livro, na qual é autoexplicativo.
“Quando um investidor precisa de dinheiro para pagar uma cirurgia daqui a três meses ou para comprar uma casa daqui a um ano, talvez não seja capaz de realizar investimentos que não tenham a liquidez desejada para atender ao seu cronograma. Então, para ele, risco não é apenas perder dinheiro, ou a volatilidade, ou qualquer um dos tópicos citados; é não conseguir, quando necessário, transformar — a preço razoável — um investimento em dinheiro.”
No decorrer do capítulo, Howard entra em um outro ponto de extrema importância, que nos ajuda a entender o “risco de perda” e os fatores que dão origem a esse risco. Ele ressalta, o que aparentemente pode ser algo contraintuitivo, mas que logo em seguida é explicado pelo autor. Risco de perda não decorre necessariamente de fundamentos ruins, por exemplo, uma ação de uma empresa que está em más condições, um título podre ou um edifício situado no pior lugar da cidade. Esse tipo de ativo pode se transformar em um ótimo investimento se for comprado a um preço suficientemente baixo.
Outro ponto ressaltado é que o risco de perda pode estar presente mesmo em um ambiente sem fraquezas (bonança econômica), pois nesses momentos ocorre uma combinação de arrogância, falta de compreensão e aceitação do risco. Um pequeno evento negativo, pode causar estragos. Isso na maioria das vezes se resume em fatores psicológicos, que causa um otimismo excessivo e por tanto gera preços muito elevados. Esses períodos fazem com que o investidor cometa o erro comum de comprar na alta, pensando que os retornos passados continuaram se concretizando, quando na verdade o risco que se corre é altíssimo.
Howard destaca que aqueles ativos maçantes, ignorados e malvistos, muitas vezes são pechinchas justamente por esse desdém dos investidores, e por isso o potencial de retorno tende a ser muito maior. Os investidores de valor acreditam na possibilidade de obter um retorno alto e, simultaneamente, manter o risco baixo, ao comprar ativos menos do que valem sendo que da mesma forma, pagar caro demais implica um retorno baixo e um risco alto.
Abaixo deixo um resumo deste capítulo escrito pelo próprio Howard Marks, e que considero com os insights mais importantes.
As projeções tendem a se agrupar em torno de padrões históricos e exigem apenas pequenas mudanças. Isto é, as pessoas geralmente esperam que o futuro seja igual ao passado e subestimam o potencial da mudança.
O risco aparece de forma irregular. Quando dizemos “2% das hipotecas não são pagas” a cada ano, mesmo que isso seja verdade em uma média de vários anos, uma onda incomum de inadimplência pode ocorrer em algum momento e levar à ruína um veículo financeiro estruturado. Será sempre o caso de alguns investidores — especialmente aqueles que operam com alto grau de alavancagem —, que não sobreviverão a esses períodos.
As pessoas superestimam sua capacidade de mensurar os riscos e de entender mecanismos que nunca viram em funcionamento. Em teoria, uma coisa que distingue os humanos de outras espécies é que somos capazes de entender que uma situação é perigosa sem a necessidade de passar por ela. Não precisamos nos queimar para saber que não devemos nos sentar no fogo. Contudo, em períodos de alta dos mercados, as pessoas tendem a não utilizar esse conhecimento. Em vez de reconhecerem o risco à frente, tendem a superestimar sua capacidade de entender como as novas invenções financeiras funcionarão.
Por fim, e de bastante importância, a maioria das pessoas veem o risco como uma maneira de ganhar dinheiro. Riscos maiores geralmente produzem maiores retornos. O mercado precisa configurar-se de modo a manter a aparência de que é exatamente isso que ocorre; se não fosse assim, um investidor não entraria em negócios arriscados. Mas as coisas não funcionam dessa forma, senão os investimentos arriscados não seriam arriscados. E, quando tomar risco não funciona, realmente não funciona: nesse momento, as pessoas se lembram exatamente do que é o risco.
O MAIS IMPORTANTE É RECONHECER O RISCO
No próximo capítulo onde Howard continua tratando sobre risco, e que ele ressalta ser o mais importante, reconhecer o risco, e em qual momento ele pode se tornar mais elevado.
Logo no início do capítulo ele em poucas palavras já diz que o principal fator que acompanha o risco e que o deixa mais elevado, é justamente quando os investidores dão pouca atenção ao risco, ficando otimistas demais com um determinado ativo, mercado ou setor, pagando um preço muito elevado. Isso seria a principal fonte de risco, comprar em momento em que os preços estão altos, onde na verdade deveria manter-se de fora ou vender o que possui.
“Enquanto o teórico credita a retorno e risco dois conceitos distintos, ainda que correlacionados, o investidor de valor acredita que o risco elevado e o retorno prospectivo baixo são apenas os dois lados de uma mesma moeda, ambos decorrentes principalmente dos preços altos. Assim, ter ciência da relação entre preço e valor — em relação a um único ativo ou a todo o mercado — é componente essencial para lidar bem com o risco.”
“Quando os mercados sobem tanto que os preços acabam implicando perdas maiores do que os potenciais ganhos que deveriam gerar, o risco surge. E o seu gerenciamento se inicia ao reconhecermos que ele existe.”
O efeito que normalmente ocorre nesses períodos de extremo otimismo, é a diminuição da aversão ao risco por parte do investidor e que determinado cenário irá se manter no futuro, e por isso acaba achando que o risco é baixo ou que não existe mais, fazendo com que entre em mercados que não compreende.
“Um elemento primordial para a criação de riscos é a crença de que estes estão menores ou talvez tenham até desaparecido por completo.”
“O mito de que não existe mais risco é uma das fontes de risco mais perigosas, um dos principais fatores para a criação de bolhas.”
Sendo assim, é ilusório pensar que os momentos onde aparentemente está mais favorável aos negócios, é onde se conseguirá maiores retornos com um baixo risco, o que na verdade acontece justamente ao contrário, por uma questão de precificação dos ativos, pois como nesses momentos os investidores buscam chegar primeiro em determinado ativo, ocorre uma aceitação cada vez maior por pagar preços cada vez mais elevados, pensando que sempre terá fundamento para continuar subindo, até acontecer do último vendedor não conseguir achar mais comprador, por conta de uma perca de fundamento ou quebra de expectativas, e então é nesse momento onde se concretiza o risco de se pagar um preço alto demais por determinado ativo.
O MAIS IMPORTANTE É CONTROLAR O RISCO
“Ao juntar tudo, vemos que, em busca de lucro, o trabalho do investidor é assumir riscos de forma inteligente. Fazer isso bem é o que separa o bom investidor do resto.”
E no último capítulo que Howard dedica a falar sobre risco, ele destaca como “mais importante”, controlar o risco. E que considera um bom investidor aquele que obtêm retornos satisfatório ao longo do tempo de forma consistente com um bom controle sobre o risco.
Mas Howard destaca que é difícil de perceber o nível de risco assumido após angariar grandes retornos e que só se percebe quando o risco é concretizado, trazido por eventos negativos. Sendo assim, Howard destaca que o controle de risco deve ser feito a qualquer momento, seja nos momentos aparentemente ruins e principalmente nos momentos em que parece não haver grandes riscos, algo que acontece com frequência em mercados de alta.
“Controlar o risco do portfólio é muito importante e vale a pena. Os frutos, no entanto, surgem apenas na forma de perdas que deixam de acontecer.”
“Assumir risco de forma inconsciente pode ser um grande erro; isso, no entanto, é o que fazem repetidamente as pessoas que compram ativos mais populares e desejados em um determinado momento — esses investidores creem que “nada de ruim pode acontecer”.
Howard destaca que o que diferencia o bom investidor do mau, é o reconhecimento do risco que está tomando e tomar esse risco de forma inteligente no momento certo, seguindo uma estratégia clara objetivando retornos saudáveis. No caso do mau investidor, ele toma risco de forma descontrolada, buscando as vezes de forma gananciosa grandes retornos, sem ao menos ter feito a lição de casa do ativo que está investindo ou entender o contexto que determinado mercado se encontra.
Dito isso, trago um trecho do capítulo onde ele faz uma comparação com as seguradoras, buscando explicar o que significa assumir riscos de forma inteligente para obter retornos.
O que significa assumir riscos de forma inteligente para obter lucros? Vejamos o exemplo do seguro de vida: como as companhias de seguros, que estão entre as empresas mais conservadoras da América, asseguram a vida das pessoas quando sabem que todas elas vão morrer?
É um risco que conhecem. Sabem que todos vão morrer, então, incluem essa realidade em sua abordagem.
É um risco que elas são capazes de analisar, e por isso todas contam com médicos que avaliam a saúde dos futuros assegurados.
É um risco que pode ser diversificado. Ao garantir uma mistura de assegurados por idade, sexo, ocupação e localização, não estarão expostas a situações anômalas e perdas generalizadas.
É um risco assumido pelo qual, certamente, serão bem recompensadas. Essas empresas estabelecem prêmios para que tenham lucro em caso de falecimento do assegurado, de acordo com as médias de suas tabelas atuariais. E, se o mercado de seguros for ineficiente — por exemplo, se a empresa for capaz de vender uma apólice a uma pessoa com probabilidade de morrer aos 80 anos cobrando um prêmio que pressupõe que ela morrerá aos 70 —, as companhias estarão mais protegidas contra os riscos e mais bem posicionadas para a obtenção de lucros excepcionais, se tudo ocorrer conforme o esperado.
“Fazemos exatamente o mesmo em relação aos títulos de alto rendimento e em relação a todas as outras estratégias da Oaktree. Tentamos estar cientes dos riscos; algo essencial, pois nosso trabalho envolve muitos ativos que alguns, de maneira simplista, chamam de “arriscados”. Empregamos profissionais altamente qualificados, capazes de analisar investimentos e avaliar riscos. Diversificamos nossos portfólios de forma adequada. E somente investimos quando estamos convencidos de que o provável retorno mais do que compensará o risco assumido”
Levando em consideração os insights fornecido por Howard, a forma de controlar o risco é, conhecer a fundo o investimento que será realizado, se expor da maneira correta e no momento certo, entendendo se tal investimento faz parte da sua estratégia ou objetivos, ponderar o potencial de retorno para o risco que aparentemente está assumindo, considerar o preço que está sendo pago por determinado ativo, evitando entrar em euforias de mercado, diversificar corretamente a carteira não concentrando em demasia o recurso em um único investimento se expondo de forma saudável até um certo patamar em que caso o investimento dê errado, não prejudique a carteira como um todo ou seu padrão de vida.
“Investir com êxito por um longo prazo depende mais do controle de risco do que da agressividade. Os resultados da maioria dos investidores serão determinados, ao final de sua carreira, mais pela quantidade de seus investimentos ruins e pelo quão ruins eles foram do que pela grandeza de seus bons investimentos. O controle de risco competente é a marca do bom investidor.”
Encerro por aqui mais um artigo, espero poder ter contribuído para o seu conhecimento e em caso de dúvida não hesite em entrar em contato será um prazer ajudar. Recomendo a leitura completa do livro de Howard ‘’ O Mais Importante para o Investidor’’, que traz insights importantíssimos além do conceito de risco e que com certeza você irá levar junto na sua jornada como investidor.

Até o próximo artigo!

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